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O dia em que o Jorge salvou a noite

  • Foto do escritor: presscomimprensa
    presscomimprensa
  • 6 de mar.
  • 2 min de leitura

Por Marcos Paulino


As horas se esvaíam céleres por entre os dedos que seguravam seus copos de chope naquele bar à beira-mar. Eu e minha parceira de eternidade, porém, ainda precisávamos de mais uma ou duas cervejas para decretar a noite por encerrada. A sede, afinal, seguia firme a nos arranhar a goela. Um mercado ali próximo daria conta do recado, e ainda forneceria o pacote de gelo necessário para fazer as vezes da geladeira do apartamento, que não queria funcionar a contento.


Não nos demos conta do horário e encontramos o estabelecimento com as portas impiedosamente cerradas. A esperança, contudo, seguia conosco. Porque essa, como todos sabem, é a última que morre. Não morreria, de jeito nenhum, no avançar daquela noite. Uma mesa na calçada – na verdade, mais na rua que no passeio – e uma luz acesa chamaram a nossa atenção. Sentados ali, alguns velhos frequentadores, assíduos do local, até então desconhecido por nós.


Rumamos sem demora até aquele promissor cenário. Era do jeito que gostamos. Os preços escritos com giz branco nas antigas lousas pregadas nas paredes, o cardápio recheado de quitutes típicos de boteco, a cerveja tilintando de tão gelada. Depois de tantos anos passando naquele trecho, como nunca tínhamos dado valor àquele estabelecimento? Fazendo as honras da casa, um senhor simpático foi nos receber.


Havia fotos suas coladas no vidro do caixa, e nelas percebemos que ele tinha o estranho hábito de equilibrar objetos na cabeça. Num retrato, servia de plataforma para uma garrafa, noutro, para uma lata... Enfim, pensamos, um senhor divertido. Que não só servia os convivas como dividia com eles as cervejas que levava. Perguntamos se tinha um pacote de gelo para vender. Tinha. Já estava aberto, mas quase cheio. Fez um preço camarada e ficamos com ele.


De quebra, ainda pudemos comprar meia dúzia de latas bem geladas. Nosso final de noite estava garantido. O gelo para colocar as cervejas que iriam para a praia conosco no dia seguinte também. E seu Jorge, o dono do bar, tornou-se uma figura querida. Talvez eu até experimente o mocotó, uma de suas especialidades, mesmo sem ser apreciador da iguaria. Ele é tão gente boa, que sua comida deve ser idem. Salve, Jorge!

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